O ensino da arte: uma abordagem capaz de desenvolver competências para reflexão filosófica e intervenção crítica

"Operários", quadro de Tarsila do Amaral

Andreza Cláudia Rosa Nascimento
Universidade Federal de São Carlos

Palavras-chave: Arte. Reflexão. Politica Educacional.

Introdução
            Embora a arte faça parte do mundo desde a pré-história, e tenha ocupado lugar de grande importância em todas as civilizações, uma vez que, ela corresponde a uma necessidade humana e social, que atribui significados ao mundo e a nós mesmos, pois permite a junção do pensamento lógico, do nosso conceito de mundo físico, ao pensamento artístico, para ampliar o horizonte de nossa experiência sensível.
            Somente com a reforma de 1971, a Lei n°. 5.692 (Brasil 1971) incluiu a arte no currículo escolar, como “atividade educativa”. Posteriormente em 1996, a Lei n°. 9.394 tornou-a componente obrigatório para o “desenvolvimento cultural dos alunos”.
            Cultura no sentido etimológico é o cultivo do ser em seu processo de humanização. A cultura além de mediar nossa relação com o mundo, também age como elemento de união entre os que adotam os mesmos valores e costumes, dando um sentido de pertencimento, de fazer parte de determinado grupo.
            As obras de arte servem para contar a história, e passaram a se desvincular do objeto por seus valores intrínsecos. Se a interpretação de uma obra de arte depende do conhecimento, não só das várias linguagens, mas dos estilos e dos movimentos.
            A educação artística tem papel fundamental em nossa capacidade para compreender as múltiplas possibilidades do mundo vivido, por meio da percepção artística, discutindo a imaginação, a inspiração, o sentimento, a atitude estética, ou seja, a cognição por meio dos sentidos, que alia à sensação e o sentimento racional, a capacidade de falar ao sentimento, a arte como forma de pensamento.
            As políticas educacionais da atualidade necessitam adequar-se às questões sociais que estão refletidas na escola pública, como por exemplo, o desemprego, a violência e a marginalização. A educação em arte propõe o caminho da convivência com as obras de arte, tanto de galerias e museus, das praças públicas, bancos e repartições do governo, quanto àquelas anônimas, que encontramos na mão de um artesão ou no cinema, no teatro, na TV ou rádio.
            É por meio desse contato aberto e eclético que podemos afinar nossa sensibilidade para as sutilezas de cada obra, sem impor o nosso gosto ou padrões subjetivos. Assim, esperamos presenciar o despertar de uma cultura democrática em que valores como diversidade, sensibilidade e cidadania sejam postos em evidência.

Algo incorporado à vida do sujeito, que faça buscar a presença da arte como uma necessidade e um prazer, como fruição ou como produção, porque em ambas a arte promove a experiência criadora da sensibilização”. (MEIRA 2003, p.131)

            Neste artigo, pretendemos mostrar um ponto de vista distante da realidade que se acentua, como possíveis reflexos da globalização que atende ao modelo que o Estado adotou ainda no Regime Miliar, que visa atender o mundo tecnológico e a sociedade industrial, formando mão-de-obra qualificada, transformando o educador e o educando em capital humano para a produção de lucros individuais.

A formação dos professores e a realidade escolar
“Muitas são as questões que envolvem os motivos de tantas fragilidades conceituais e metodológicas no campo do ensino-aprendizagem em Arte: a inexistência de recursos humanos, a inexperiência pedagógica e a consequente falta de questionamentos. [...] Faz-se necessário repensar o papel da Arte na educação frente às reformas curriculares advindas da LDB atual (Lei 9.394/96) e os Parâmetros Curriculares Nacionais Arte elaborados pelo MEC* [...] que ratificam a presença das diversas linguagens artísticas nas escolas”. (MAGALHÃES 2002, p 164-165). 
            Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são propostas do Ministério da Educação e do Desporto (MEC) para a abordagem curricular, com o objetivo de ser um referencial comum para a educação de todos os estados brasileiros. Este conjunto de documentos orientam os professores, apresentam direções, caminhos, conteúdos, linguagens e critérios de avaliação, entretanto, muitos docentes demonstram dificuldades em aplicar as sugestões apresentadas pelo MEC, de forma que também nos leva a refletir e a indagar a respeito da formação desses professores, pois a melhoria da qualidade do ensino requer maior atenção e políticas públicas de formação inicial e continuada dos profissionais de educação.
            Para que tal objetivo seja alcançado, é necessário que os educadores desenvolvam uma consciência política em que estejam integradas, arte, educação e cultura, juntamente com uma proposta que dê prioridade às necessidades frequentes das escolas públicas. É importante que os professores dessa disciplina tenham compreensão histórica do ensino da Arte, e consigam desenvolver uma análise das políticas que já foram adotadas em períodos passados e das políticas atuais, com o objetivo de auxiliá-los na prática pedagógica.
Faz-se necessário trabalhar com profissionais da educação de maneira que eles, sendo capazes de compreender suas práticas e refletir sobre elas, sejam também capazes de transformar as suas lógicas de ensino”. (JESUS 2002, p.111)
            Contudo, deveriam de fato, dar maior ênfase à realidade escolar, atendendo as necessidades de aprendizagem do aluno, dentro do seu contexto social, cultural e econômico. Uma vez que devemos contribuir com o desenvolvimento de uma consciência crítica e de valores vinculados à cidadania nos alunos, questionando a qualidade do ensino, por meio da percepção do cotidiano, levando-os a indagarem o senso comum e descobrirem novos significados para as relações humanas.
Os docentes deveriam estar sempre em contato com a produção de imagens do seu tempo e atentos àquelas que eram produzidas pelos alunos em sala através de desenhos e pinturas. O resgate da cultura da imagem se tornou necessário, o que passou a ser visto pelos estudiosos e pesquisadores como fator relevante para a formação do aluno”. (GOMES E NOGUEIRA 2008, p, 583-596).
            Segundo Comte-Sponville, imaginar é representar imagens anteriormente, sobretudo quando o que se representa esta ausente. Para Sartre, isto é um perigo e uma vantagem: A Arte nos liberta do real, mas também nos distancia dele. A imaginação vai servir de mediadora entre o vivido e o pensado. Por tudo isso, fica claro o Cuidado que o educador deve ter, e é importante não menosprezar a capacidade de crianças e adolescentes, ou do público nomeado “carente cultural”, de compreender por meio do sentimento.

Considerações finais
            A rica produção intelectual proveniente das mais diversas orientações teóricas pode abrir as possibilidades de melhor compreensão das funções da educação e do ensino, e dos problemas atuais da sociedade, dos bairros, e da comunidade que adentram os portões das escolas.
            Ainda assim, é pouco interessante ao sistema de ensino brasileiro, marcado pelo déficit de profissionais qualificados e de políticas que não colaboram com a melhoria do ensino, não oferecendo suporte e infraestrutura suficientes, ocasionando o não desenvolvimento das competências necessárias para formar cidadãos atuantes e críticos frente à realidade vivenciada na sociedade. 
            Assim, refletimos que se trata justamente do que se designaram a fazer, que é atrasar a educação e agravar, o que torna o país cada vez mais desigual, mantendo as pessoas, principalmente de camadas populares, distantes da boa educação e tornando-as cada vez mais alienadas, alvo fácil de manipulação. 

Referências bibliográficas
ARANHA, Maria L. Arruda, Martins, Maria H. Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia – 4. Ed.- São Paulo: Moderna, 2009. Unid. 7. Pág.400 a 449.
DIAS, Cláudia e Fernandes, Denise. Pesquisa e métodos científicos. Brasília, março 2000.
GOMES, Karina B.; NOGUEIRA, Sonia M. de Almeida. Ensino da Arte na escola pública e aspectos da política educacional: contexto e perspectivas. (Ensaio: Avaliação das Políticas Públicas Educacionais). Rio de Janeiro, v 16, n. 61, pág. 583-596, out/dez.2008. 
JESUS, D. M. Educação inclusiva: uma proposta construída na/pela prática. Cadernos de Pesquisa em Educação, Vitória, ES, v. 8, n. 15, 2002.
Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixam diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. Leis, Brasília, DF, 1971. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.  Acesso em 29/06/2014.
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27.839.
MAGALHÃES, A. D. T. V. Ensino de arte: perspectivas com base na prática de ensino. In: BARBOSA, A. M. (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.

MEIRA, M. R. Educação estética, arte e cultura do cotidiano. In: PILLAR, A. D. (Org.). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2003.

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