Saúde mental de professores e sua repercussão em sala de aula

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Thyfani Domingues da Silva Martins
Universidade Federal de São Carlos

Palavras-chave: Saúde mental. Professores. Educação. Sofrimento psíquico.

Introdução
O trabalho é um fator de extrema importância para o processo de constituição do ser humano. Ele está distante de ser um espaço neutro, pode ser um espaço prazeroso e satisfatório ou desgastante e gerador de sofrimentos físicos e psíquicos, a depender da relação do trabalhador com o meio social e a forma que a situação do trabalho repercute em sua subjetividade. Para estudar a subjetividade é necessário um olhar atento para a diversidade e singularidade do sujeito, analisando seus comportamentos e atitudes, levando em consideração fatores sociais, culturais e políticos nos quais esse sujeito está inserido. 
A relação saúde, doença e trabalho está relacionada às mudanças ocorridas no mundo do trabalho, como a reestruturação produtiva, a terceirização, as novas tecnologias e a precarização das relações de trabalho, dentre outras. Dessa forma, o trabalhador sente um clima de ameaça e instabilidade, fatos que podem causar um prejuízo à sua saúde. No campo educacional, estudos apontam que professores têm sofrimentos causados pelo trabalho, gerados pela desvalorização, falta de diálogo entre gestão e responsáveis pelos alunos, condições de trabalho precário (Carneiro, 2001, Codo; Sampaio; Hitomi, 1993). São questões que acorrem frequentemente e que, por isso, são tratadas de forma banalizada e a responsabilidade recai, muitas vezes, no professor, que adoece.
Não há um acordo quando se relaciona trabalho e psiquismo e para entender essa relação é necessário compreender que o desgaste ou o sofrimento psíquico está diretamente ligado ao contexto laboral, a como esse sujeito se relaciona nesse ambiente e a repercussão em sua subjetividade, que pode ou não levar a doenças psíquicas e/ou psicossomática. Quando o ambiente de trabalho, no caso, a escola, é um local com constantes desavenças, estressante, as chances de desencadear uma doença psíquica são maiores. Corroborando com essa ideia:
A escola, enquanto organi­zação do trabalho, é uma instituição fundamental para desencadear os processos evolutivos das pessoas, atuando como propulsora ou inibidora do crescimento psíquico, físico, intelectual e social de alunos e professores, numa troca constante de saberes” (Dessen; Polonia, 2005).



A doença mental nas escolas
Atualmente as condições de trabalho do docente são bastante precárias e se contradiz com a função que a escola possui, pois esta Instituição tem como caráter promover e provocar reflexões sobre o mundo e suas relações e encontrar formas de diálogo tendo como protagonista o professor.
            Alguns estudos foram feitos acerca da saúde do profissional da educação e alguns dados são relevantes para tentar entender as causas de seu adoecimento. A intensificação do trabalho é uma das queixas mais registradas pelos professores. Há vários mecanismos para que essa intensificação aconteça, regulação, controle e prova por competências são processos que acontecem dentro de indústrias e que adentram as escolas sem considerar as particularidades dos princípios educativos.
            Existe o pensamento de que a educação sozinha precisa resolver todos os problemas sociais, com isso a demanda dos professores aumenta e eles interiorizam uma responsabilidade pelos alunos e pela escola. Com demandas cada vez mais complexas, que pode envolver fatores sociais como família ou saúde, os docentes não se sentem preparados para desempenhar um papel para os quais não foram contratados ou muitas vezes por sua formação acadêmica não permitir. Com a implementação de políticas recentes, o professor necessita desenvolver as novas competências para exercer suas atividades, dele é esperado preparo e estímulo para atender todas as demandas que chegam até a escola. A relação professor/pais é uma queixa recorrente, de acordo com professores, os pais não valorizam o trabalho do educador e têm menos tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos.
            Em uma pesquisa realizada, observou uma professora que tinha uma aluna presente que estava doente e aguardavam a comunicação com a família. A professora dividia-se em desenvolver sua aula e tentar, com seu próprio aparelho celular, encontrar a família. Não havia expectativas de levá-la diretamente da escola a um centro de saúde (Assunção, 2005). Esse é um caso que serve de exemplo da contradição da assistência global à criança e a falta de recursos. Esse é um exemplo de como o professor tem que estar preparado para a multiplicidade de eventos que podem ocorrer, incluindo a saúde do aluno e que certamente terá a interrupção de sua atividade principal, o professor precisa ter estratégias para não perder o controle total da turma. Vários estudos concordam que fatores externos influenciam e perturbam a relação professor/aluno/turma.
            Outro mecanismo dessa intensificação é o trabalho sob pressão temporal, o professor tem pouco tempo para efetivamente ensinar devido a vários fatores e contratempos que acontece durante uma aula. Com essa pressão com o tempo, o professor deixa sua saúde de lado, não busca uma postura confortável ou abusa de seu aparelho vocal, por exemplo. Além disso, essa pressão pode causar um afastamento da relação professor/aluno, pois a atenção dispensada é superficial, isso dá ao professor um sentimento de perda da qualidade do seu trabalho ou de que seu objetivo não está sendo alcançado, causando distúrbios psicológicos.
            A atividade do docente é transformada diante dos fatos descritos, a carga horária do docente é redobrada, tendo em vista que seu trabalho continua em casa com correções de provas, elaboração de aula, além da necessidade de criar estratégias diante dos problemas sociais que ele precisa resolver. Na pesquisa de Assunção (2005), professores sugerem a presença de outros profissionais como psicólogos e assistentes sociais, argumentam sobre a dificuldade de um único profissional estar preparado para todas as demandas.
            A superlotação da sala de aula é outra razão que causa problemas para o professor, com um número excessivo de alunos, ele não consegue olhar o aluno em sua individualidade, o que gera perda qualitativa do trabalho pedagógico. Com os afastamentos médicos de professores e outros que são remanejados para outras funções, o professor em exercício fica sobrecarregado com alunos dos professores ausentes, segundo pesquisa realizada por Silva (2007).
            Para conseguir realizar ser trabalho, o docente exige muito de seu físico e psíquico. Segundo pesquisa realizada por Noronha, Assunção e Oliveira (2008), depois de muitas brigas que as professoras separaram, chega um momento em que elas as ignoram, nesse momento fica evidente que essas profissionais chegaram ao limite da exaustão, limite este que mostra um adoecimento ou sofrimento. Apesar da falta de acordo e pesquisas sobre a relação do sofrimento mental e psíquico com o trabalho, há hipóteses de que a intensificação do trabalho e a grande solicitação em caráter de urgência faz com que o professor, constantemente, ultrapasse seus próprios limites, expondo-se a um adoecimento.
            Assunção (2003) apontou em sua pesquisa que os transtornos psíquicos ficaram em primeiro lugar com 16% nos afastamentos de professores da rede municipal de Belo Horizonte, seguido por distúrbios respiratórios, com 12%. Nesta pesquisa, foi quantificado o número de professores que têm propensão a ter um transtorno psíquico e chegou ao resultado de que 51% poderiam vir a ter esse quadro clínico.  Em outros estudos realizados por Araújo (2003) e Silvany-Neto (2000), na Bahia, também constataram um número elevado de risco para desenvolver transtornos mentais. Na Austrália, Tuettmann (1991), em sua pesquisa encontrou o risco para transtornos mentais em 44,6% dos professores de ensino secundário. E em um estudo realizado em Hong Kong (Chan, 2003), mostrou que um terço dos profissionais da educação participantes da pesquisa apresentou algum nível de estresse e síndrome de burnout.
Alguns fatores aparecem com relevância entre as queixas dos professores: a relação com os alunos, o docente tem sentimento de incapacidade para motivar ou controlar os alunos; falta de apoio administrativo, percebem que o diretor tem pouca consideração pelos problemas da sala de aula; relações debilitadas com os colegas; pressão temporal; falta de reconhecimento com sua profissão; insegurança financeira.

Considerações finais
            Grandes mudanças aconteceram no setor educacional nas últimas décadas, a universalização do ensino na rede publica é um exemplo. Com o maior acesso, muitas são as demandas que chegam à escola e que necessitam ser atendidas. Porém, a realidade escolar pública não tem bases para atender às diversas situações, fazendo com que o professor seja obrigado a intensificar e desviar seu trabalho, gerando perda de qualidade e perda de identificação com aquele trabalho.
Observou-se que os professores têm mais risco de sofrimento psíquico por diversas causas e a prevalência de transtornos psíquicos menores é maior entre eles, quando comparados a outros grupos. Diante de tantas queixas é compreensível que os professores adoeçam, é necessário começar a se ter um cuidado com a saúde dos professores, para que o ritmo e o ambiente escolar sejam saudáveis.
Apesar das inúmeras frentes que se pode defender a fim de atenuar alguns sofrimentos de professores, a queixa de sobrecarga desse profissional é algo que, de imediato, precisa ser mudado. A fala dos próprios profissionais sugere que haja um trabalho em equipe e que outros profissionais se envolvam no ambiente escolar. Há um projeto de lei que foi aprovado pela Assémbleia Legislativa de São Paulo que assegura atendimentos com psicólogos e assistentes sociais para alunos da educação básica pública, o projeto de lei aguarda a sanção do governador de São Paulo. Se for aprovada, a lei atenuará esta sobrecarga e encaminhará as demandas à profissionais especializados, fazendo com que o professor não desvie sua real função de educar.

Referências Bibliográficas

ASSUNÇÃO, A. A., Oliveira, D.A. Intensificação do trabalho e saúde dos professores. Rev. Educação e Sociedade, Campinas, v. 30, n. 107, p. 349-372, 2009.

ASSUNÇÃO, A. V., Barreto, S. M., Gasparin, S. M. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Rev. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 189-199, 2005.

CARNEIRO, M. C. B. G. C. A saúde do trabalhador do professor. Dissertação de mestrado não publicada, São Carlos, SP. Universidade Federal de São Carlos, SP, 2001.

CODO, W., SAMPAIO, J. J. C., & HITOMI, A. H. Indivíduo, trabalho e sofrimento: Uma abordagem interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

DESSEN, M. A., & POLONIA, A. C. A família e a escola como contexto do desenvolvimento humano. Paidéia, Ribeirão Preto, SP, 17(36), 21-32, 2007.

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: Estudo de psicopatologia do trabalho. Oboré, São Paulo, 1992.

Freud, S. O mal-estar na civilização. Imago, Rio de Janeiro, 1974.

Alesp aprova projeto que garante psicólogos e assistentes sociais em escolas públicas de SP, SinPsi – Sindicato dos Psicólogos de São Paulo, São Paulo, jul. 2014. Disponível em <http://sinpsi.org/noticias.php?id=3441>. Acesso em: 11 jul 2014.


SELIGMANN-Silva, E. Psicopatologia e saúde mental no trabalho. In: R. Mendes. Patologia do trabalho, São Paulo,  Atheneu, 2003. p. 1141-1182



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Multiculturalismo na escola: um respeito as diferenças para a construção do todo

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Thayne dos Santos Rosa
Universidade Federal de São Carlos

Palavras-chave: Multiculturalismo.  Identidade. Pluralidade. Gênero.  Sexualidade.

Introdução
O multiculturalismo é um tema muito presente na fase pedagógica atual, onde no ensino caracteriza – se como um processo de democratização implicando na reestruturação das politicas praticas realizadas em escolas, com o objetivo de atender as diferenças dos alunos. Atualmente, a globalização foi o ápice do avanço das tecnologias de comunicação, possibilitando a rápida circulação de informações que tornam mais fácil à mobilidade e locomoção de pessoas entre os países. O mundo evoluiu em diversificação multicultural.
O termo multiculturalismo pode ter como seu significado um conjunto de diversas culturas em determinada localidade, onde cada ser precisa aceitar as diferenças que os tornam únicos entre os outros indivíduos, e cada pessoa é composta por esse contexto histórico-social. Neste processo, investe – se na não discriminação valorizando a trajetória histórica particular dos grupos que compõem a identidade social.
A globalização fez com que as pessoas sentissem a necessidade de adaptar novas mudanças que ocorreram as novas gerações. Essas pessoas estão dispostas a abranger novos conhecimentos para modificar sua cultura, pois, a grande facilidade de evolução fez agregar diferentes tipos em um único lugar.
A cultura anda lado a lado com a educação, são notáveis muitos problemas ocasionados por conta dessa hibridização das culturas e raças, como a padronização do ensino, a busca por uma homogeneidade na sala de aula e a falta de socialização entre as diferenças são alguns destes.
A escola estando em crise, como primeira instância socializadora do indivíduo depois da família, não está assumindo esse papel como orientador e não está avançando juntamente à globalização, pois, o que mais encontramos atualmente é a falta de incentivo e o respeito à diversidade cultural, não aceitando que cada um já tem certo peso para carregar, logo a escola é heterogênea.

Multiculturalismo

O Brasil pode ser considerado um dos países que apresentam maiores índices de diversidade cultural. Essa miscigenação é chamada de multiculturalismo, ou mosaico cultural, podendo ser abordado de maneiras diferentes e nasceu nas lutas de diversificados grupos sociais que foram discriminados em seus processos históricos sendo excluídos por conta de suas questões étnicas e de identidade. Compreende - se que a escola tenha uma grande influência em descobrir essas culturas, passando a ser a segunda instância socializadora das crianças, conseguindo ser um local muito rico em etnias, culturas, religiões e valores distintos, podendo ser muito útil para o processo educativo, segundo Ministério da Cultura, cultura é “ uma rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade.”
 Entretanto, atualmente nos vemos flagrados ao mundo preconceituoso, onde a escola está em crise excluindo a sociedade desse processo de ensino aprendizagem. A não aceitação do “próximo”, outros indivíduos, é um dos grandes problemas encontrados na escola, na realidade, em todo contexto ao qual estamos inseridos, os valores dos outros não são os mesmo que os nossos e com isso a grande maioria entende que a sua opinião e a sua história de vida são melhores que a dos demais.
Com essa exclusão imposta pela sociedade, surgem grupos que são classificados fora de padrão, na tentativa de transformar o mundo em um ambiente aceitável e rico de diversidade, podendo vir a ser usada como um objeto importante na educação. Existem alguns grupos que lutam por seus direitos, o multiculturalismo deve ser aceito e respeitado para uma educação melhor, porque podemos sim, aprender com as vivências e experiências dos outros.
Segundo Moreira e Candau (2012), existem diferentes abordagens do multiculturalismo e entre elas, as suas principais seriam a abordagem descritiva e propositiva. A abordagem descritiva do multiculturalismo é uma característica da sociedade atual, podendo ser formada pelo contexto histórico, político e sociocultural onde o indivíduo esta inserido, o qual se conforma com a sua realidade e não propõe mudanças. Já a abordagem propositiva descreve o multiculturalismo além dessa realidade dada, sua parte essencial de ser é onde o indivíduo pode atuar, intervir e transformar sua realidade social, o que é esperado de um professor em sua prática pedagógica.
Dentro desta perspectiva propositiva, existem abordagens que a complementam, estas são as abordagens assimilacionista, diferencialista e a monocultural plural ou diferencialista ,  e por fim a abordagem intercultural.
 A abordagem assimilacionalista é caracterizada pela afirmação da existência de diversos grupos sociais, onde sua maioria sofre com a falta de igualdade e oportunidades, estes que deveriam ser acolhidos pela cultura hegemônica, sendo aceitos a ela. No caso da educação e seu processo de ensino, se vê uma grande necessidade de incluir esses alunos menos “aceitos”, é o que ocorre com a universalização da escolaridade para todos, e que esses participem do sistema escolar sem precisar colocar - se em uma posição monocultural, uma perspectiva onde professores em sua prática devem buscar estratégias de abranger todos os anseios e incluir estes com alguma estratégia, e quando não ocorrido, a desmotivação pode vir a ser iminente.
 A abordagem diferencialista ou monocultural plural é relacionada ao reconhecimento das diferenças, visando há manifestação da identidade cultural e da liberdade entre as culturas. Esta abordagem critica compreende a assimilação como uma forma de negar a sua vã existência, a diferença de seus valores mais individuais para se encaixar em um todo para uma sociedade heterogenia e comum à todos, desvalorizando assim as individualidades de cada um.
A última abordagem citada, é a intercultural, que promove a inter relação entre distintos grupos culturais presentes na sociedade, um processo elabora, constrói e reconstrói a convivência entre as culturas e incentiva que na educação seja reconhecida a bagagem do outro para fortalecer o processo de ensino e aprendizagem.
Torna-se muito necessária a preparação de pedagogos para enfrentar a diversidade cultural presente na sala de aula, como perspectiva fundamental para o crescimento do mesmo no convívio escolar, aprendendo com cada aluno, com cada valor e com cada cultura, conquistando a autonomia para modificar e inovar o processo de ensino, com diferentes linguagens ao mesmo tema sempre incentivando o aluno.

Identidade e diferença

O aumento constante do estudo do multiculturalismo em âmbito educacional ocasiona dúvidas em relação à identidade e as diferenças, um sempre dependendo do outro para sua existência. Aceitar o próximo e respeitar seus valores, sua cultura e suas características nos remete a importância de distingui-los, diferencia-los e de compreender que cada qual contém sua própria identidade, que não é meramente a essência que nos forma e sim a construção de relações com outro semelhante ao mesmo, por si só se torna diferente dos demais, assim afirma SILVA (2000) “É importante ressaltar que a identidade se associa intimamente com a diferença: o que somos se define em relação ao que não somos.”. Fazer parte de um todo, se encaixar em algum grupo pode caracterizar o indivíduo com uma identidade, como por exemplo, “Ele é homem, ela é mulher.”. A identidade então surgiria na sociedade para elaborar definições ao indivíduo por suas características físicas, comportamentais e sociais, o grupo com qual interage pode delimita-lo membro deste grupo e acarretar assim possuidor desta identidade como “Eles são gays; eles são roqueiros; eles são protestantes.”, ou seja, quando você possui características de um grupo específico, ou até mesmo um grupo subalternizado, o indivíduo entra nessa generalização dos grupos, isso é denominado como processo de classificação que se torna muito presente no convívio escolar, tanto como ela é um local socializador, onde ocorre a classificação dos grupos, dos nós e dos eles, do que somos ou do que não somos, seria a famosa “panelinha”, consequentemente trazendo maiores diferenças e dificuldades a prática do educador. Lidar com essa divisão de diferenças e preconceitos causa um impacto grande ao professor que muitas vezes, não consegue lidar com as identidades e as diferenças presentes no dia a dia, deixando de lado a conscientização para o respeito aos diferentes espaços, sem abertura ao conhecimento coletivo, onde, todos com suas identidades e diferenciações possam se chocar e ocasionar o compartilhamento de ideias. A proposta pedagógica deve ser ampla abrigando todos os grupos pertencentes à sociedade, e articular a diferença não esquecendo que elas existem. Com elas é possível construir o saber e o aprendizado, por mais que existam dificuldades nesta unção de ideais, é na escola que isto deve ser trabalhado. Entretanto, a falta de reconhecimento dos profissionais da educação a esta realidade, torna o trabalho com as múltiplas identidades possuidor de menor importância no convívio acadêmico. Não é uma tarefa simples, por isso se vê necessária maior preparação aos futuros educadores, que eles estejam cientes da necessidade de conviver com diferentes identidades e usa-las ao favorecimento da totalidade.

Gênero em sala de aula

Para poder falar de gênero é necessário compreender seu significado, podendo ter diversas definições. Segundo o glossário LGBT, gênero é:

 “1) Sistema de classificação que atribui qualidades de masculinidade e de feminilidade aos corpos do homem e da mulher. As características de género são muitas vezes arbitrárias e podem mudar quer ao longo do tempo quer de cultura para cultura. 2) Muitas vezes confunde-se o conceito de género com o conceito de sexo biológico. Separar os conceitos é bastante útil para compreender os diferentes comportamentos e também para a compreensão de fatores que dizem respeito ao desejo sexual e à expressão de género ou identidade.


Também pode constituir outros significados, podendo ser gênero na maneira de se expressar e se identificar como tal sexo seja quais eles forem, ou seja, uma mulher pode muito bem gostar de calças largas e se expressar como homem, como também pode se sentir melhor como homem. Esta se tornou uma grande luta das comunidades LGBT, visando o bem estar e a integração dos transexuais, transgêneros e travestis em todo o contexto social atual, para que melhor possam ser inseridos no mercado de trabalho conseguindo maior aceitação como um ser humano emocional, também, em todo o contexto social.
 Ainda nos encontramos em uma sociedade heteronormatizada, que visa família e a sociedade ideal, pregado por métodos tradicionais de existência, onde o preconceito com as diferenças às identidades sexuais presentes na sala de aula podem ser facilmente abatidas. Tomaremos como exemplo os professores homens que lecionam para a educação infantil ou básica, recebem maior atenção dos familiares, onde muitas das vezes se tornam alvo de especulações e preconceitos, possivelmente considerado pedófilos, porque a carga sexual é muito grande e carrega símbolos na sociedade convencional, onde, aceitar que um homem cuide de seu filho ou filha pequena é muito difícil. Lembro-me de poucos os casos de professores homens que conseguiram ficar um bom tempo lecionando, para as famílias, é muito melhor e mais aceitável ter uma mulher como professora porque sempre foi assim.
As mulheres também estão ocupando espaços que jamais seriam delas, conquistando lugar no mercado de trabalho que antes eram dos homens, desde as lutas feministas, elas conquistaram direito de voz e expressão, entretanto, existem muitas dificuldades.
Como professores deve-se transmitir o respeito à igualdade dos gêneros, onde a mulher e o homem são iguais em aspectos de espaço e de cidadania, o trabalho com a sexualidade na sala de aula deve ser estimulado para que ocorra futuramente, maior aceitação a essas inversões de papeis.
 A sexualidade é parte da sociedade, atualmente aumentou a necessidade de ser abordada a temática nas escolas brasileiras. O envolvimento imaturo de jovens com a sexualidade, o grande índices de gravidez na adolescência e os preconceitos existentes as diversidades sexuais, são reflexos de uma sociedade dominada pelo conservadorismo que não compreende a sexualidade parte importante da construção social dos seres humanos e para que exista uma preparação a estes jovens que não recebem as informações sobre isto em casa, a escola deveria ressarcir este dano e abrir espaço e vós para a temática, motivando assim o respeito ao indivíduo de quaisquer que seja a sua identidade de gênero, sua orientação sexual ou até mesmo a maneira que se veste, evitando ocorrer situações de constrangimento a membros da comunidade Lgbt, que são fortemente marcados por suas características e por seus ideais, estes que estão tomando espaço neste mundo multicultural visando sua aceitação como membro da totalidade que forma uma sociedade, quebrando barreiras e comovendo pessoas que não são membros da comunidade entrarem na causa. Como ressaltam Canalanz e Ferraz (2012),

 “É papel de um Estado que se diz fundamentado nos direito humanos apoiar os jovens em sua entrada em uma vida sexual protegida, segura e autônoma, em vez de tratá-la como temível e perigosa

 Isso faz com que a educação como formadora de indivíduos críticos e reflexivos, se torne uma ponte necessária a este tipo de conhecimento, um conhecimento que é banido por uma sociedade que julga.

Considerações

As diversidades estão presentes na sociedade e construir uma educação para que todas elas sejam encaixadas é importante, entretanto como se aceitar essa sociedade multicultural, como uma totalidade e compreender as diferenças de cada membro da mesma.
A responsabilidade de ser educador no Brasil é um desafio, acima de tudo devemos acreditar nas capacidades da escola como uma organização, que está capaz para enfrentar as inúmeras dificuldades que cercam e diminuem as capacidades do agir coletivo de professores, que ao longo dos anos não conseguiu atualizar seus conhecimentos, ficando para trás em termos importantíssimos, como o Multiculturalismo e essa aproximação dos grupos culturais. Cientes da preocupação com uma construção de educação que vise o todo, deve se ocorrer maior preparação aos futuros professores, tomando um olhar maior aos cursos de licenciaturas fazendo com que estes saiam capazes de ser  ousados e usando todos os recursos necessários para transmitir conhecimentos aos seus alunos de como se viver em sociedade, em grupos e sempre com a visão de que nada é um projeto inacabado, que é preciso construir e reconstruir a  educação conforme a sociedade se desenvolve.
Conforme analisado, professores devem e necessitam compreender cada indivíduo como único em prol ao desenvolvimento do mesmo e também é preciso integra-lo ao todo, porque cada um pode oferecer elementos para a construção de uma nova educação, perante o novo contexto no qual se encontra a escola atual, é importante buscar e transmitir aos alunos, as diferenças étnicas, culturais, sexuais e entre tantas outras diferenças que devem ser respeitadas. Compreendendo também que não cabe somente a escola realizar esta inserção cultural e ensinar o respeito ao próximo, isso deve ser algo a ser implantado na sociedade e a escola, como raiz da sociedade, pode ser a pioneira para a mudança e para a aceitação.

Referências

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CANDAU, V.M. Human rights, education and interculturality: tensions between equality and difference. Rev. Bras. Educ. vol.13 no.37 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2008.
Associação de jovens Lgbts. Glossário LGBT. Acesso em:  https://www.rea.pt/glossario-lgbt/ 18:01 28/06/14. 
MOREIRA, A.F. & CANDAU, V.M. Multiculturalismo: Diferenças culturais e práticas pedagógicas. 9. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. p. 13-125.
OLIVEIRA, O. V & MIRANDA, C. Multiculturalismo crítico, relações raciaise política curricular: a questão do hibridismona Escola Sarã. Revista Brasileira de Educação. 2004.
SILVA, T.T. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T.T.  (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes (2000).



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O sentido da escola no todo e na vida do indivíduo

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Maria Catarina Pires
Universidade Federal de São Carlos

NOTA: Pelo título quero dar a entender que a escola assume determinado sentido, ou sentidos, dentro da sociedade e para ela, atingindo também a individualidade de cada um no coletivo. Por sentido quero dizer, o porquê de existência.

Introdução
No discurso dos alunos, em geral, a escola deveria ser um espaço de formação íntegra da pessoa, que prepara para a vida. Afirmações tais como 'a educação vem da escola' são muito comuns de se encontrar na fala dos estudantes. Mas por experiência posso afirmar que muitos professores também tem essa concepção, ou concepções ainda mais limitantes, e adotam para si uma postura de transmissores de valores e regras pré-estabelecidas.
Movidas por experiências conflituosas e batalhas por melhores condições de existência, ou mesmo pelo senso comum, muitas famílias sonham com a ascensão social para seus filhos, com empregos de prestígio e de grande retorno financeiro, pois isso é ser “bem sucedido”.

Desenvolvimento
Com tantas divergências de interesses e sofrendo grandes abalos políticos, a realidade da escola brasileira é, desde sempre conflituosa.
O Brasil é um país jovem e a escola pública surgiu tardiamente no país, tendo início no fim do século XIX com escolas primárias e ainda somente no século XX, a escola se estendeu aos níveis seguintes. Mas tudo com base nos interesses da elite e para calar reivindicações de movimentos populares. Se analisarmos o percurso da escola brasileira desde então, não houve mudanças no eixo de interesses e o ensino ainda é fundamentado na elite e baseado no dinheiro, foca no preparo para ingresso no mercado para o exercimento de determinada função apenas. A discussão da educação de forma mais global na formação do indivíduo é ainda mais recente, com seu marco mais expressivo em Paulo Freire. Desde então tem sido difícil a implementação de novas estratégias, porém o debate por uma educação digna já se mostra mais presente. No discurso político, a educação visa sim o bem-estar dos indivíduos.
*conhecimento emancipatório: De acordo com a obra de Boaventura Sousa Santos, conhecimento que leva a solidariedade; antagonismo de conhecimento-reprodução, que leva à ignorância.

Os conflitos ideológicos que fundamentam a escola são quase que intermináveis. Segundo Barbosa, "O papel que a escola ocupa hoje na sociedade brasileira é complexo. Muitas vezes ela contribui para a exclusão dos meios necessários à vida digna, pois as estruturas mais fortes organizam-se para privilegiar grupos e pessoas; as consciências são levadas por aquilo que fica parecendo natural no ambiente, tornando-se inquestionável e aceito pelo senso comum. A escola reforça a prática e reproduz o egoísmo, o individualismo e a competição, elementos essenciais ao mundo em que predomina o mercado. A organização do fazer escolar é repetidora do sistema social injusto que a sociedade criou e o mantém como forma de emperrar mudanças que possam alterar a ordem dominante."
A escola, cheia de contradições, perde muitas vezes o seu referencial de construção centrada na vida, para ser ferramenta de inserção na dilaceradora sociedade capitalista e em seu mercado de trabalho. Ela hoje serve perfeitamente aos interesses mercantis, na medida certa para que tudo funcione como é esperado e está já estabelecido. Mudanças, transformações, são completamente aversivas para esse sistema e os meios para que elas não aconteçam são tremendamente eficazes, tanto que, a simples ideia de escola como transformadora da realidade quase não está presente no pensamento da sociedade atual.
É possível fazer uma análise direta de tudo isso com base em situações concretas vivenciadas na sala de aula. Os instrumentos avaliativos utilizados, as provas, exemplificam claramente uma educação focada na cópia e reprodução de um único modelo considerado como certo. Há somente um jeito certo de se responder e as respostas que fogem disso estão, consequentemente, erradas.
É claro que não se pode reduzir à escola a tarefa de formar uma pessoa. Isso nega os muitos outros espaços válidos que contribuem para a formação do sujeito, e os variados tipos de saber que extrapolam os muros escolares.
Muitos valores ultrapassados e preconceituosos ainda são muito presentes e reforçadores no ambiente escolar. Mas muitos desses problemas decorrem da falta de preparo pedagógico dos profissionais da educação e de uma reflexão, sendo esta necessária da parte de todos.

Considerações finais

Entristece pensar nas atuais condições educacionais brasileiros, especialmente no Ensino Público, mas reduzir tudo a lamentações não leva nada a solução. Tampouco é possível que se espere por uma ação vinda das secretarias de educação ou de grandes instituições para que mudem as estratégias escolares.
A escola é em si, um espaço de luta, e com grandes privilégios, apesar dos empecilhos, pois participa de maneira muito forte na formação da pessoa, pode-se sim criar, a partir da ação dos docentes ou dos próprios alunos, seres humanos que se unam para transformar a escola, um espaço de diálogo e de valorização da essência humana. Segundo Barbosa “uma educação crítica, radical e libertadora é um dos instrumentos necessários ao aglutinamento de forças transformadoras e gestadoras do trabalho de formação de seres com consciências críticas (...) Ir contra o pensamento reacionário e conservador é extremamente importante para que todos possam viver dignamente.”
O menino que acorda cedo e, às vezes a contragosto, vai até a escola, não imagina a amplitude de seu simples ato, tal é o poder transformador da educação. É preciso tomar consciência dessa grandiosidade e importância inerentes à educação, para que não sejam outros que tomem essa consciência e a utilizem como desejarem. Esses outros, na realidade atual são os donos do dinheiro, que passam por cima de quem for para manter o poder.
É inegável que a escola é transformadora e essencial a reflexão por parte dos educadores, especialmente em sua formação, sobre o seu papel na realidade da escola, que são as pessoas. É importantíssimo ressaltar a importância do novo nas práticas pedagógicas. Os professores são como pedras fundamentais na escola, em seu trabalho de formação da pessoa humana. Quando questionam acerca de seu posicionamento social, superam certamente concepções comuns que cegam a atuação pedagógica, e estão no caminho para um modelo de conhecimento que busca a dignidade dos seres humanos.
De forma especial destaco os professores e profissionais da educação, mas a reflexão é necessária a todos, todos os que vivem e participam de uma realidade de interação com outros seres humanos e são atingidos pelos fatores mencionados anteriormente no artigo.
A escola é sim transformadora em todos os sentidos, mas é fruto das ações e ideias humanas, somos nós que construímos e transformamos, a escola não é um bloco institucional sobrenatural, mas resultado do trabalho das pessoas que somos nós. Aí está a ação de cada um, o gesto que tem sim seu impacto, já que tratamos de um coletivo.

Referências
BARBOSA, Márcia Silvana Silveira. O papel da escola: obstáculos e desafios para uma educação transformadora. UFRGS/ Porto Alegre, 2004. 229 p. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6668/000488093.pdf?...1
HILSDORF, Maria Lucia Spedo. História da Educação Brasileira. São Paulo: Thompson, 2005.
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