A Pedagogia Waldorf

Créditos de imagem: Gabriela Seltz

Karina Oliveira
Universidade Federal de São Carlos


Palavras-chave: Waldorf. Pedagogia. Antroposofia. Rudolf Steiner

Introdução
 A pedagogia Waldorf é um tipo de pedagogia diferente, entretanto não podemos classificá-la como humanista, nos moldes de A.S Neil, pois ela vai além do aprender livre do aluno, como é a escola de Summerhill. Ela segue os preceitos da antroposofia, teoria pertencente ao multifacetado Rudolf Steiner. O método pedagógico de Steiner acredita que o desenvolvimento físico, amínico e espiritual são atributos de extrema importância no desenvolvimento do indivíduo. “Observação íntima do 'ser criança’' e das condições necessárias ao desenvolvimento infantil”. O objetivo desse trabalho é sanar algumas das inúmeras dúvidas e curiosidades que existem em torno da Pedagogia Waldorf.


Rudolf Steiner
 Nascido em Kraljevec, fronteira austro húngara, em 27 de fevereiro de 1861, Steiner tinha interesses diversos, como arquitetura, ocultismo, educação, entre outros. Era um grande especialista do filósofo alemão Goethe. Mudou-se para Berlim em 1897. Entre 1902 a 1912 foi presidente da Sociedade Teosófica da Alemanha. Em 1913 ele fundou a sociedade Antroposófica. Morreu em Donarch na Suíça, ao 64 anos de idade (1925).

 Antroposofia
 A antroposofia é uma ciência espiritual que tem como objetivo o estudo do Universo e do Homem, uma ciência do Cosmo cujo centro e ponto de apoio é o homem. A antroposofia apresenta uma maneira diferente de interpretar os fenômenos da natureza física e espiritual, tendo produzido efeitos em diversos domínios da vida prática como na pedagogia, na medicina, na farmacologia, na agricultura, nas artes, e dando origem a um movimento antroposófico que se espalha por todo mundo.

 A Pedagogia Waldorf
  Em 1919, Emil Mot diretor da fábrica de cigarros Waldorf Astoria em Stattgart, Alemanha (daí o nome da pedagogia proveniente da antroposofia), desejando criar uma escola para os filhos dos operários, convidou Rudolf Steiner para organizá-la e dirigi-la. Steiner aceitou o convite, com a condição de poder aplicar os princípios pedagógicos que extrairá da antroposofia.
 As escolas Waldorf são associações civis sem fins lucrativos, onde os pais dos alunos são responsáveis pela sustentação da mesma, não só com a contribuição financeira, mas também através de um compromisso de autogestão, que se unem organizadamente em comissões, como, por exemplo, eventos, administração, infraestrutura, comunicação, entre outras. A participação dos pais é fundamental para continuidade da escola, sem esse engajamento é impossível de uma escola Waldorf existir.
 Do contrário do que muitos pensam, as escolas Waldorf não são sectárias ou religiosas. A educação da criança e feita não importando seus contextos culturais ou religiosos. As escolas Waldorf não estão ligadas a nenhuma doutrina religiosa em particular, mas baseia-se na crença de que há uma dimensão espiritual para o ser humano e para tudo na vida.
 As escolas Waldorf pressupõem um regime de relativa liberdade de ensino. Se fossem denominadas por sentidos alheios deixariam de ser Waldorf. Existem três princípios que devem ser realizados para que uma escola Waldorf possa existir:
1) A liberdade quanto às metas de educação
2) A liberdade quanto ao método pedagógico
3)O currículo em comparação ao método tem uma importância menor, ele constitui uma das características da escoa Waldorf. A liberdade ao currículo não significa que matérias exigidas por programas oficiais de ensino não sejam ensinadas.
 Nesses três aspectos cada escola Waldorf deve ser autônoma.
Rudolf Steiner não organizou um plano de ensino definitivo aos professores, foram de suas palestras retirados os conteúdos que deveriam ser ensinados, “A fantasia do professor é algo sumamente valioso e que não deve ser restringido.”
 É ministrado nas escolas matérias que são exigidas em praticamente todas as outras, como português, matemática, geografia, história, ciências físicas e biológicas, história. Mas de acordo com os preceitos Waldorf serão oferecidas matérias diferenciadas, como astronomia, teatro, zoologia, botânica, música, trabalhos manuais, artesanato, filosofia, artes plásticas.
 As escolas Waldorf não se baseiam em provas, testes etc, já que os mesmos são utilizados apenas para fins estatísticos. A “avaliação” observa sua personalidade e caracterizará suas várias facetas, em vez de apenas medir seu rendimento. Tal avaliação não será feita por meio de notas, mas sim por uma caracterização qualitativa. Esta procurará estimular realçando o que há de positivo, e criticando o negativo somente em relação ao que o aluno seria capaz de produzir.
 Entretanto, o conteúdo de matérias, alfabetização etc, dá-se a partir dos sete anos, onde a criança se encontra em seu segundo setênio. Os setênios são períodos de sete anos, segundo a antroposofia de Steiner, a vida humana é dividida em nove setênios, e a fase escolar de uma pessoa se encontra em seus três primeiros setênios.
 0-7 anos, primeiro setênio, nessa época dá-se na pedagogia Waldorf o ensino infantil (maternal e jardim de infância). Há atividades semanais, como o dia de fazer pão, o dia da aquarela, jardinagem. Nas atividades diárias há o momento de brincar e das atividades dentro de sala. A contação de estória é extremamente importante, na qual refere-se às grandes verdades espirituais da evolução humana, como a vida e a morte, o bem e o mal.
 7-14 anos, segundo setênio, é onde começa a alfabetização, ele é fortemente voltado para o desenvolvimento anímico do ser. Cada grupo de alunos que ingressa no primeiro ano terá um professor que acompanhará a turma durante os oito anos de ensino fundamental. O professor ministrará as matérias básicas para qual estiver apto, e através dessa intensa convivência ele conhecerá profundamente cada criança, podendo assim estar mais ciente das diferenças e dificuldades de cada uma.
14-21, terceiro setênio, onde se dá início ao ensino médio. Ao completar 15 anos e entrar no terceiro setênio, o jovem passa por uma fase de drásticas mudanças físicas, e ao mesmo tempo começa a desenvolver a maturidade intelectual. Como o homem, segundo a antroposofia, se relaciona de diferentes formas com o mundo, através da atividade física, da atividade anímica e do âmbito do pensamento. Mãos, coração e cabeça tem igual importância no desenvolvimento do ser humano. Para haver uma inter-relação entre essas divisões, a Pedagogia Waldorf procura desenvolver as capacidades prático- manuais, morais e cognitiva, isto é alcançado, através de um currículo que proporciona inúmeras experiências.
 Existem cerca de 800 escolas Waldorf pelo mundo, há cerca de 53 anos foi inaugurada
a primeira escola no Brasil, e hoje em dia existem 58 escolas em todo o país. Em 1998 foi criada a Federação de Escolas Waldorf no Brasil (FEWB), com o intuito de agregar todas as escolas Waldorf existentes na época, cumprindo um parecer do Conselho Estadual de Ensino do Estado de São Paulo.

Considerações finais

A Pedagogia Waldorf pode ser vista com olhares de estranhamento para os que não a conhecem. A ideia de uma educação libertária, que visa o pleno desenvolvimento do ser humano e suas individualidades, sem trazer aquele velho formato de escola (que tem como objetivo apenas a manutenção de classes sociais, e que não pensam nos alunos como indivíduos, mas sim com um todo) é de certa estranheza, de fato. Contudo é reconfortante saber que existem escolas que fogem do padrão, que são uma alternativa a todo esse ensino apostilado e engessado que hoje é tão fortemente empregado, não somente no Brasil, mas no mundo todo. A sua visão de mundo pode ser totalmente oposta ao que Rudolf Steiner acredita, mas uma proposta pedagógica na qual o ser criança é respeitado, e não apressadamente exposto ao mundo adulto, é de extremo bom senso.

Referências bibliográficas
LANZ, Rudolf. A Pedagogia Waldorf: caminho para um ensino mais humano. São Paulo: Summus, 1979.
STEINER, Rudolf. A educação da criança segundo a ciência espiritual/ Rudolf Steiner: tradução Rudolf Lanz-- 3. ed.-- São Paulo: Antroposófica, 1996.
TEIXEIRA, M. C. S. Formas alternativas de administração da educação: Um estudo de caso_ A escola Rudolf Steiner de São Paulo. São Paulo. P 108-112. jan/dez. 1986.

ZEHRER, Paul. WHY WALDORF? Califórnia, Estados Unidos, fev: 2012. Marin Waldof School. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=tZmAX5adCl0> Aceso em: 10. jul. 2014.

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