Multiculturalismo na escola: um respeito as diferenças para a construção do todo

Imagem retirada do google, créditos não encontrados.

Thayne dos Santos Rosa
Universidade Federal de São Carlos

Palavras-chave: Multiculturalismo.  Identidade. Pluralidade. Gênero.  Sexualidade.

Introdução
O multiculturalismo é um tema muito presente na fase pedagógica atual, onde no ensino caracteriza – se como um processo de democratização implicando na reestruturação das politicas praticas realizadas em escolas, com o objetivo de atender as diferenças dos alunos. Atualmente, a globalização foi o ápice do avanço das tecnologias de comunicação, possibilitando a rápida circulação de informações que tornam mais fácil à mobilidade e locomoção de pessoas entre os países. O mundo evoluiu em diversificação multicultural.
O termo multiculturalismo pode ter como seu significado um conjunto de diversas culturas em determinada localidade, onde cada ser precisa aceitar as diferenças que os tornam únicos entre os outros indivíduos, e cada pessoa é composta por esse contexto histórico-social. Neste processo, investe – se na não discriminação valorizando a trajetória histórica particular dos grupos que compõem a identidade social.
A globalização fez com que as pessoas sentissem a necessidade de adaptar novas mudanças que ocorreram as novas gerações. Essas pessoas estão dispostas a abranger novos conhecimentos para modificar sua cultura, pois, a grande facilidade de evolução fez agregar diferentes tipos em um único lugar.
A cultura anda lado a lado com a educação, são notáveis muitos problemas ocasionados por conta dessa hibridização das culturas e raças, como a padronização do ensino, a busca por uma homogeneidade na sala de aula e a falta de socialização entre as diferenças são alguns destes.
A escola estando em crise, como primeira instância socializadora do indivíduo depois da família, não está assumindo esse papel como orientador e não está avançando juntamente à globalização, pois, o que mais encontramos atualmente é a falta de incentivo e o respeito à diversidade cultural, não aceitando que cada um já tem certo peso para carregar, logo a escola é heterogênea.

Multiculturalismo

O Brasil pode ser considerado um dos países que apresentam maiores índices de diversidade cultural. Essa miscigenação é chamada de multiculturalismo, ou mosaico cultural, podendo ser abordado de maneiras diferentes e nasceu nas lutas de diversificados grupos sociais que foram discriminados em seus processos históricos sendo excluídos por conta de suas questões étnicas e de identidade. Compreende - se que a escola tenha uma grande influência em descobrir essas culturas, passando a ser a segunda instância socializadora das crianças, conseguindo ser um local muito rico em etnias, culturas, religiões e valores distintos, podendo ser muito útil para o processo educativo, segundo Ministério da Cultura, cultura é “ uma rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade.”
 Entretanto, atualmente nos vemos flagrados ao mundo preconceituoso, onde a escola está em crise excluindo a sociedade desse processo de ensino aprendizagem. A não aceitação do “próximo”, outros indivíduos, é um dos grandes problemas encontrados na escola, na realidade, em todo contexto ao qual estamos inseridos, os valores dos outros não são os mesmo que os nossos e com isso a grande maioria entende que a sua opinião e a sua história de vida são melhores que a dos demais.
Com essa exclusão imposta pela sociedade, surgem grupos que são classificados fora de padrão, na tentativa de transformar o mundo em um ambiente aceitável e rico de diversidade, podendo vir a ser usada como um objeto importante na educação. Existem alguns grupos que lutam por seus direitos, o multiculturalismo deve ser aceito e respeitado para uma educação melhor, porque podemos sim, aprender com as vivências e experiências dos outros.
Segundo Moreira e Candau (2012), existem diferentes abordagens do multiculturalismo e entre elas, as suas principais seriam a abordagem descritiva e propositiva. A abordagem descritiva do multiculturalismo é uma característica da sociedade atual, podendo ser formada pelo contexto histórico, político e sociocultural onde o indivíduo esta inserido, o qual se conforma com a sua realidade e não propõe mudanças. Já a abordagem propositiva descreve o multiculturalismo além dessa realidade dada, sua parte essencial de ser é onde o indivíduo pode atuar, intervir e transformar sua realidade social, o que é esperado de um professor em sua prática pedagógica.
Dentro desta perspectiva propositiva, existem abordagens que a complementam, estas são as abordagens assimilacionista, diferencialista e a monocultural plural ou diferencialista ,  e por fim a abordagem intercultural.
 A abordagem assimilacionalista é caracterizada pela afirmação da existência de diversos grupos sociais, onde sua maioria sofre com a falta de igualdade e oportunidades, estes que deveriam ser acolhidos pela cultura hegemônica, sendo aceitos a ela. No caso da educação e seu processo de ensino, se vê uma grande necessidade de incluir esses alunos menos “aceitos”, é o que ocorre com a universalização da escolaridade para todos, e que esses participem do sistema escolar sem precisar colocar - se em uma posição monocultural, uma perspectiva onde professores em sua prática devem buscar estratégias de abranger todos os anseios e incluir estes com alguma estratégia, e quando não ocorrido, a desmotivação pode vir a ser iminente.
 A abordagem diferencialista ou monocultural plural é relacionada ao reconhecimento das diferenças, visando há manifestação da identidade cultural e da liberdade entre as culturas. Esta abordagem critica compreende a assimilação como uma forma de negar a sua vã existência, a diferença de seus valores mais individuais para se encaixar em um todo para uma sociedade heterogenia e comum à todos, desvalorizando assim as individualidades de cada um.
A última abordagem citada, é a intercultural, que promove a inter relação entre distintos grupos culturais presentes na sociedade, um processo elabora, constrói e reconstrói a convivência entre as culturas e incentiva que na educação seja reconhecida a bagagem do outro para fortalecer o processo de ensino e aprendizagem.
Torna-se muito necessária a preparação de pedagogos para enfrentar a diversidade cultural presente na sala de aula, como perspectiva fundamental para o crescimento do mesmo no convívio escolar, aprendendo com cada aluno, com cada valor e com cada cultura, conquistando a autonomia para modificar e inovar o processo de ensino, com diferentes linguagens ao mesmo tema sempre incentivando o aluno.

Identidade e diferença

O aumento constante do estudo do multiculturalismo em âmbito educacional ocasiona dúvidas em relação à identidade e as diferenças, um sempre dependendo do outro para sua existência. Aceitar o próximo e respeitar seus valores, sua cultura e suas características nos remete a importância de distingui-los, diferencia-los e de compreender que cada qual contém sua própria identidade, que não é meramente a essência que nos forma e sim a construção de relações com outro semelhante ao mesmo, por si só se torna diferente dos demais, assim afirma SILVA (2000) “É importante ressaltar que a identidade se associa intimamente com a diferença: o que somos se define em relação ao que não somos.”. Fazer parte de um todo, se encaixar em algum grupo pode caracterizar o indivíduo com uma identidade, como por exemplo, “Ele é homem, ela é mulher.”. A identidade então surgiria na sociedade para elaborar definições ao indivíduo por suas características físicas, comportamentais e sociais, o grupo com qual interage pode delimita-lo membro deste grupo e acarretar assim possuidor desta identidade como “Eles são gays; eles são roqueiros; eles são protestantes.”, ou seja, quando você possui características de um grupo específico, ou até mesmo um grupo subalternizado, o indivíduo entra nessa generalização dos grupos, isso é denominado como processo de classificação que se torna muito presente no convívio escolar, tanto como ela é um local socializador, onde ocorre a classificação dos grupos, dos nós e dos eles, do que somos ou do que não somos, seria a famosa “panelinha”, consequentemente trazendo maiores diferenças e dificuldades a prática do educador. Lidar com essa divisão de diferenças e preconceitos causa um impacto grande ao professor que muitas vezes, não consegue lidar com as identidades e as diferenças presentes no dia a dia, deixando de lado a conscientização para o respeito aos diferentes espaços, sem abertura ao conhecimento coletivo, onde, todos com suas identidades e diferenciações possam se chocar e ocasionar o compartilhamento de ideias. A proposta pedagógica deve ser ampla abrigando todos os grupos pertencentes à sociedade, e articular a diferença não esquecendo que elas existem. Com elas é possível construir o saber e o aprendizado, por mais que existam dificuldades nesta unção de ideais, é na escola que isto deve ser trabalhado. Entretanto, a falta de reconhecimento dos profissionais da educação a esta realidade, torna o trabalho com as múltiplas identidades possuidor de menor importância no convívio acadêmico. Não é uma tarefa simples, por isso se vê necessária maior preparação aos futuros educadores, que eles estejam cientes da necessidade de conviver com diferentes identidades e usa-las ao favorecimento da totalidade.

Gênero em sala de aula

Para poder falar de gênero é necessário compreender seu significado, podendo ter diversas definições. Segundo o glossário LGBT, gênero é:

 “1) Sistema de classificação que atribui qualidades de masculinidade e de feminilidade aos corpos do homem e da mulher. As características de género são muitas vezes arbitrárias e podem mudar quer ao longo do tempo quer de cultura para cultura. 2) Muitas vezes confunde-se o conceito de género com o conceito de sexo biológico. Separar os conceitos é bastante útil para compreender os diferentes comportamentos e também para a compreensão de fatores que dizem respeito ao desejo sexual e à expressão de género ou identidade.


Também pode constituir outros significados, podendo ser gênero na maneira de se expressar e se identificar como tal sexo seja quais eles forem, ou seja, uma mulher pode muito bem gostar de calças largas e se expressar como homem, como também pode se sentir melhor como homem. Esta se tornou uma grande luta das comunidades LGBT, visando o bem estar e a integração dos transexuais, transgêneros e travestis em todo o contexto social atual, para que melhor possam ser inseridos no mercado de trabalho conseguindo maior aceitação como um ser humano emocional, também, em todo o contexto social.
 Ainda nos encontramos em uma sociedade heteronormatizada, que visa família e a sociedade ideal, pregado por métodos tradicionais de existência, onde o preconceito com as diferenças às identidades sexuais presentes na sala de aula podem ser facilmente abatidas. Tomaremos como exemplo os professores homens que lecionam para a educação infantil ou básica, recebem maior atenção dos familiares, onde muitas das vezes se tornam alvo de especulações e preconceitos, possivelmente considerado pedófilos, porque a carga sexual é muito grande e carrega símbolos na sociedade convencional, onde, aceitar que um homem cuide de seu filho ou filha pequena é muito difícil. Lembro-me de poucos os casos de professores homens que conseguiram ficar um bom tempo lecionando, para as famílias, é muito melhor e mais aceitável ter uma mulher como professora porque sempre foi assim.
As mulheres também estão ocupando espaços que jamais seriam delas, conquistando lugar no mercado de trabalho que antes eram dos homens, desde as lutas feministas, elas conquistaram direito de voz e expressão, entretanto, existem muitas dificuldades.
Como professores deve-se transmitir o respeito à igualdade dos gêneros, onde a mulher e o homem são iguais em aspectos de espaço e de cidadania, o trabalho com a sexualidade na sala de aula deve ser estimulado para que ocorra futuramente, maior aceitação a essas inversões de papeis.
 A sexualidade é parte da sociedade, atualmente aumentou a necessidade de ser abordada a temática nas escolas brasileiras. O envolvimento imaturo de jovens com a sexualidade, o grande índices de gravidez na adolescência e os preconceitos existentes as diversidades sexuais, são reflexos de uma sociedade dominada pelo conservadorismo que não compreende a sexualidade parte importante da construção social dos seres humanos e para que exista uma preparação a estes jovens que não recebem as informações sobre isto em casa, a escola deveria ressarcir este dano e abrir espaço e vós para a temática, motivando assim o respeito ao indivíduo de quaisquer que seja a sua identidade de gênero, sua orientação sexual ou até mesmo a maneira que se veste, evitando ocorrer situações de constrangimento a membros da comunidade Lgbt, que são fortemente marcados por suas características e por seus ideais, estes que estão tomando espaço neste mundo multicultural visando sua aceitação como membro da totalidade que forma uma sociedade, quebrando barreiras e comovendo pessoas que não são membros da comunidade entrarem na causa. Como ressaltam Canalanz e Ferraz (2012),

 “É papel de um Estado que se diz fundamentado nos direito humanos apoiar os jovens em sua entrada em uma vida sexual protegida, segura e autônoma, em vez de tratá-la como temível e perigosa

 Isso faz com que a educação como formadora de indivíduos críticos e reflexivos, se torne uma ponte necessária a este tipo de conhecimento, um conhecimento que é banido por uma sociedade que julga.

Considerações

As diversidades estão presentes na sociedade e construir uma educação para que todas elas sejam encaixadas é importante, entretanto como se aceitar essa sociedade multicultural, como uma totalidade e compreender as diferenças de cada membro da mesma.
A responsabilidade de ser educador no Brasil é um desafio, acima de tudo devemos acreditar nas capacidades da escola como uma organização, que está capaz para enfrentar as inúmeras dificuldades que cercam e diminuem as capacidades do agir coletivo de professores, que ao longo dos anos não conseguiu atualizar seus conhecimentos, ficando para trás em termos importantíssimos, como o Multiculturalismo e essa aproximação dos grupos culturais. Cientes da preocupação com uma construção de educação que vise o todo, deve se ocorrer maior preparação aos futuros professores, tomando um olhar maior aos cursos de licenciaturas fazendo com que estes saiam capazes de ser  ousados e usando todos os recursos necessários para transmitir conhecimentos aos seus alunos de como se viver em sociedade, em grupos e sempre com a visão de que nada é um projeto inacabado, que é preciso construir e reconstruir a  educação conforme a sociedade se desenvolve.
Conforme analisado, professores devem e necessitam compreender cada indivíduo como único em prol ao desenvolvimento do mesmo e também é preciso integra-lo ao todo, porque cada um pode oferecer elementos para a construção de uma nova educação, perante o novo contexto no qual se encontra a escola atual, é importante buscar e transmitir aos alunos, as diferenças étnicas, culturais, sexuais e entre tantas outras diferenças que devem ser respeitadas. Compreendendo também que não cabe somente a escola realizar esta inserção cultural e ensinar o respeito ao próximo, isso deve ser algo a ser implantado na sociedade e a escola, como raiz da sociedade, pode ser a pioneira para a mudança e para a aceitação.

Referências

CALAZANS. G. & FERRAZ. D. As polêmicas da educação para a sexualidade. Le Mond Diplomatique Brasil, Juventude e Política. 2012.
CANDAU, V.M. Human rights, education and interculturality: tensions between equality and difference. Rev. Bras. Educ. vol.13 no.37 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2008.
Associação de jovens Lgbts. Glossário LGBT. Acesso em:  https://www.rea.pt/glossario-lgbt/ 18:01 28/06/14. 
MOREIRA, A.F. & CANDAU, V.M. Multiculturalismo: Diferenças culturais e práticas pedagógicas. 9. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. p. 13-125.
OLIVEIRA, O. V & MIRANDA, C. Multiculturalismo crítico, relações raciaise política curricular: a questão do hibridismona Escola Sarã. Revista Brasileira de Educação. 2004.
SILVA, T.T. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T.T.  (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes (2000).



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