Gabriela Maldonado Sewaybricker
Universidade Federal de São Carlos
Palavras-Chave: Lúdico. Infância. Ensino Fundamental.
Introdução
Atualmente
no mundo cibernético e moderno em que vivemos, o processo de ensino pode ser
avaliado apenas como modalidade do processo de comunicação e informação.
Entretanto, existem nesse processo algumas dificuldades, o que pode prejudicar
o ciclo de ensino-aprendizagem entre professor e aluno. Em razão disso é que
escrevo este artigo, com o objetivo de explicitar a importância de uma didática
lúdica no primeiro ano do ensino fundamental.
É válido considerar que o processo de ensino deve estar
enquadrado nos métodos didáticos, tendo como fator principal a intencionalidade
de ensino, do contrário, se não há tal intenção, a didática do professor é
afetada, bem como a aprendizagem do aluno.
Contudo, segundo minha hipótese, existem meios de se
resgatar essa intenção, despertando a imaginação e a criatividade do próprio
professor, para assim, realizar o mesmo com os alunos. Afinal, quando se tem o
objetivo de ensinar, quanto mais ferramentas se usa, mais fácil é conquistá-lo.
É aí que o Lúdico aparece, como uma ferramenta auxiliadora para o
ensino-aprendizado.
Criando
Conceitos
Para realizar o objetivo citado a
cima, é necessário antes expor alguns conceitos imprescindíveis para a boa
compreensão do leitor sobre o texto.
Portanto, devo explicar que a palavra didática surgiu de uma expressão
grega que significa arte ou técnica de
ensinar.
Segundo Kishimoto (et al.), "didática constitui-se
como o principal ramo de estudos da pedagogia e a ela cabe o estudo dos
processos de ensino-aprendizagem” (Kishimoto et al, 2011), ou seja, cabe à didática estudar o meio em que se
encontra e quais as melhores formas de ali ensinar os conteúdos necessários.
Sendo assim, o professor didático é
aquele que sabe identificar que tipo de alunos tem, em que contexto (cultura,
sociedade, família, etc) eles se encontram e qual o melhor método para
ensino-aprendizagem que deve ser utilizado.
Enquanto a didática consiste em
estudos de processos de aprendizagem, o lúdico, que em latim remete a jogos e
divertimento, consiste em uma ferramenta de ensino. Afinal, através do lúdico,
o aluno aprende de uma forma descontraída e, na maioria das vezes, sem perceber
que realmente está aprendendo. É possível então dizer que o lúdico está ligado
a todo método de ensino que gere alegria e prazer, desenvolva a criatividade, a
imaginação e a curiosidade, renovando e desafiando a busca por soluções de
problemas variados.
Transformações que Demandam Adaptações
No
ano de 2001 atribuiu-se como meta da educação nacional aumentar a duração do
ensino fundamental para nove anos, tornando obrigatório
que os alunos ingressassem no ensino fundamental com seis anos de idade ou a
completar.
A decisão de adiantar o ensino
fundamental deve-se ao fato, constatado por pesquisas, de que existe uma
diferença de aprendizagem e habilidades entre crianças que não frequentaram e
crianças que frequentaram creches antes de ingressar no ensino fundamental,
sendo que os alunos que não frequentaram creches têm muito mais dificuldade em
se adaptar a rotina escolar e, pior ainda, ao convívio social e ao aprendizado.
Essa meta foi atingida no ano de
2004, exigindo uma grande adaptação para essa mudança, sendo que a mais
importante era a forma de ensino-aprendizagem. A partir do momento em que se dá
aula para uma criança de seis anos, não se pode superestimar sua capacidade de
aprendizagem, achando que ela aprende do mesmo modo que uma criança de sete
anos.
Por conta disso, o desafio que se
instalou na época foi conseguir criar uma nova estrutura curricular específica
para essas crianças. O “trabalho com uma nova faixa etária requer a criação de
um curso que respeite suas especificidades” com a intenção de “valorizar
motivações internas das crianças em busca de metas e ações dirigidas para a
busca dos objetivos” é o que diz Kishimoto et
al (2011).
Tendo todas essas considerações em
vista, nota-se que é imprescindível conservar o direito do aluno de brincar,
porém, também é necessário transmitir o conhecimento. Isso não seria possível
com um planejamento de divisão de disciplinas (História, Português, etc) que
mantêm as crianças de seis anos sentadas por quatro horas seguidas. Surgi então
o conceito e a prática do lúdico, como uma resposta ao problema de adaptação.
Lúdico, aprendendo a ser criança.
Em geral é no primeiro ano do ensino
fundamental em que a maioria das crianças tem contato com o letramento. E para
que esse contato seja simpático à criança, é necessário utilizar do lúdico.
Nesse sentido, quais são as melhores
formas de fazê-lo? O ideal é fazer com que o letramento e a integração de
linguagens apareçam em todos os momentos da rotina, como por exemplo, em jogos,
em cantorias, nas rodas de história, na produção coletiva de texto, na
biblioteca, etc.
Contudo, se não houver uma verdadeira intenção
de ensinar, por parte do professor, todo o trabalho feito em sala será mal
feito e o docente não alcançará aquilo que se espera sobre o seu ensino. O
professor, quando utiliza do lúdico está a proporcionar a criança um mundo
imaginário, encantado, em que a criança aprende, mas, muitas vezes, sem
perceber que está aprendendo.
Por assim ser, é importante que o
professor não seja apenas um telespectador desse mundo, mas se faça parte dessa
incrível história que ele mesmo proporcionou. Só entende as crianças aquele que
também se faz criança. No horário de aula, está presente um espaço de tempo em
que o professor, assim como os alunos, pode embarcar na sua própria história e
encontrar a alegria ingênua de sua criança interna, pois aquele que já foi
criança um dia, o será para sempre.
Muitos docentes de pedagogia tendem
a mergulhar na “monotonia da vida quotidiana em situação de sala de aula, ano
após ano” (Huberman, 1989) e por isso desanima-se com relação ao seu trabalho,
achando que esse não traz mudanças, nem diferenças. Mas é preciso enxergar que
a diferença, a mudança deve partir primeiramente do professor. É preciso se questionar
“Por que as minhas aulas estão monótonas?” e a partir desse questionamento
buscar uma forma de inovação. Muitos professores tem medo do que é novo,
portanto tem medo de mudar, mas o comodismo é um dos primeiros influenciadores
para o fracasso.
Então como fazer para não ser
acomodado? Simples! Basta apenas voltar sempre às origens. Relembrar quais os
verdadeiros motivos que o fizeram, enquanto pessoa, escolher ser professor,
qual o sentimento inicial que sentia por essa prática, quais os verdadeiros
objetivos, os verdadeiros ímpetos que o levaram a escolher uma profissão tão
desafiadora.
O autor Michael Huberman diz que em
geral os professores iniciam em sua
carreira animados, mas com o tempo passam a tomar uma posição de
conservantismo, lamentações e desinvestimento. É preciso quebrar essa
tendência. É preciso formar professores que tenham consciência de que educar
não será uma tarefa fácil, mas que recomeçar, dando voz aos seus verdadeiros
motivos para lecionar, é sempre imprescindível.
Ferramentas lúdico-didáticas
Toda essa teoria, se mal
interpretada, pode não gerar fruto nenhum, contudo, se bem direcionada e
entendida, pode fazer imensa diferença no aprendizado de aluno e de professor.
Um jeito claro de por em prática essa teoria é usar alguns meios didáticos e ao
mesmo tempo leves que, segundo Kishimto (et
al) são: desenho e escrita com giz no pátio, jogos de palito, blocos
lógicos, dominós, desafio das figuras, bingo com as letras do nome, horta,
entre outras. Mas também se deve usar meios lúdicos, como: dança, contação de
histórias, teatro, desenho, cantoria, leitura parlendas, etc.
É importante ressaltar que a
atividade deve sempre estar ao alcance das possibilidades das crianças de
acordo com suas faixas etárias. No caso do bingo por exemplo, se as crianças
tiverem seis anos ainda estarão no processo de letramento, então não seria
ideal trabalhar esse jogo inicialmente com palavras inteiras, porque os alunos
não irão compreendê-las, o ideal é trabalhar com letras, sons e sílabas.
Na teoria de Vygotsky, existe uma
relação entre brincar e a atividade infantil: “o brincar como situação
imaginária difere substancialmente do trabalho e de outras formas de atividade”
(Vygotsky, 1978) o que quer dizer que o brincar imaginário difere de criança a
criança, dependendo de sua situação social, ou seja, na família, na comunidade,
na escola.
Vida real e imaginária
Às vezes, a memória em ação
interfere na situação imaginária da criança. Um bom exemplo disso é uma menina
que no período final da creche e no início da pré-escola faz uma boneca, seu
bebê, dormir, assim como vê sua mãe fazer.
Esse ato segundo Vygotsky (1978) utiliza mais memória em ação do que
nova situação imaginária. Conforme a criança passa a se desenvolver, os
propósitos de suas brincadeiras se aperfeiçoam e ela adquira mais flexibilidade
e criatividade inserindo inúmeras situações em sua imaginação e não apenas as
próximas (Kishimoto et al).
Nessa época uma caixa de papelão não
é apenas uma caixa, é também um barco, um carro ou uma astronave. No início do
fundamental, incrementa-se a imaginação com detalhes do dia-a-dia, o que exige
que as brincadeiras sejam compatíveis com a realidade. “Na idade escolar, o
brincar não morre, mas é orientado para a realidade” (Vygotsky, 1978, p. 104).
Essa frase desmente qualquer teoria que diga que no primeiro ano do ensino
fundamental deve-se utilizar apenas do ensino tradicional.
Nos dias de hoje a infância é
findada cada vez mais cedo. A dura realidade das famílias e do próprio mundo
desencanta os olhos infantis, fazendo-os amadurecerem muito rápido. É preciso
que a escola saiba como intervir nessa situação e por isso o lúdico, os jogos,
as brincadeiras e a imaginação, são tão importantes. Contudo, essas
brincadeiras devem ser voltadas para a realidade, a fim de não causar um choque
de impacto quando a criança passar para o segundo ano do ensino fundamental.
Um exemplo dessa interação se dá
numa escola de ensino fundamental em que algumas meninas brincam na área do
médico numa situação em que está havendo um parto “Cesária-normal” em que o
bebê, boneca, está demorando a sair.
Conclusão
Assim como as crianças muitos
adultos possuem uma rotina, uma vida, mas muitas vezes imaginam uma vida melhor
e mais condizente com eles próprios. É preciso entender isso para proporcionar
a criança que pelo menos nesse momento de sua vida, ela possa ter várias vidas
diferentes, ser astronauta, professora, cantora, etc.
A mente de uma criança funciona como
uma cartola mágica, onde é preciso dizer algumas palavras mágicas, utilizar de
alguns artefatos lúdicos, para que ela possa ver a mágica do conhecimento
acontecer. Contudo, só pode dizer essas palavras mágicas aquele que souber
fazer o truque, mas que também acredite em mágica, ou seja, só pode ensinar didática
e ludicamente aquele que souber ser e pensar como criança.
Referências
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A.D. O ensino: objeto da didática. In: CASTRO, A.D. de. Ensinar a Ensinar. SP: Pioneira
Thompson Learning, 2001..
HUBERMAN,
Michaël. II O ciclo de vida professional
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KISHIMOTO,
Tizuko Morchida, et al.Educação e
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e letramento: crianças de seis anos no ensino fundamental. São Paulo, v.37,
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PIMENTA,
Letícia Brito Mendes, AQUINO, Orlando Fernández. Revista portuguesa de
educação. Pesquisa e produção
intelectual na área de didática: resultados de um estudo múltiplo de casos.
Uberaba, Minas Gerais. Pp, 61-83. 2013.
TARDIF,
Maurice, LESSARD, Claude. O trabalho
docente elementos para uma teoria da docência como profissão de interações
humanas. Petrópolis, Editora Vozes. 2005.
SEWAYBRICKER,
M.M. Atividades lúdicas como estratégia
no ensino do balé para crianças de três a cinco anos. Sorocaba. Faculdade
de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba. 2013.
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